Saiba como os papas interferiram na história da sexualidade ao longo dos séculos
Papa Francisco foi exceção ao dar declarações progressistas e inclusivas sobre sexo e amor
O que os sumos pontífices católicos têm a ver com sexo? Bom, muita coisa. Poucos cargos têm tanta prerrogativa para falar sobre a sexualidade alheia quanto esse.
Aliás, o tema "sexo" foi um dos ingredientes por trás da maior ruptura da Igreja Católica. Quase sempre, quando papas se manifestaram sobre o assunto foi no sentido de oprimir minorias e direitos reprodutivos. O papa Francisco, falecido na segunda-feira (21), foi uma exceção ao adotar tom mais acolhedor com relação à comunidade LGBTQIAPN+.
Preparei uma listinha não exaustiva de pitacos papais com péssimas consequências ao longo da história. Confira abaixo.
PAPA SIRÍCO (384 A 399)
Emitiu um decreto papal em que reforça a obrigatoriedade do celibato para padres e diáconos e, mesmo aqueles que já fossem casados, não poderiam fazer sexo com suas esposas.
PAPA GREGÓRIO 1º (590 A 604)
Conhecido como Gregório, o Grande, ele deixou uma série de escritos em que falava que o sexo não deveria ser apenas por prazer, mas procriativo, e feito apenas dentro do casamento. Ele valorizava a castidade e se alinhava com a visão de que a luxúria e a concupiscência eram pecado. Embora ele não citasse diretamente expressões como sexo oral, sexo anal e masturbação em sua obra, compreende-se que ele condenava essas práticas, por não terem fim de procriação.
PAPA GREGÓRIO 7º (1073 A 1085)
Apesar de ser recomendado há séculos, o celibato clerical não era imposto com tanta veemência, até a chegada desse papa. Ele acreditava que padres casados tinham sua lealdade dividida entre a vida espiritual e a família e a sexualidade. Outro ponto bastante importante era a concentração de bens e poder nas mãos da Igreja, uma vez que padres celibatários não teriam herdeiros.
INOCÊNCIO 3º (1198 A 1216)
Ele via o sexo (mesmo dentro das normas cristãs) como uma coisa impura. Seu papado foi extremamente rígido quanto à sexualidade humana, que passou a ser cada vez mais associada ao pecado e à culpa. O Quarto Concílio de Latrão, reunião de eclesiásticos realizada em 1215, reafirmou que sexo era coisa de casados e ainda determinou que católicos deveriam confessar seus pecados ao menos uma vez ao ano –e, entre esses pecados, estão os pensamentos impuros, o adultério, a sodomia e a masturbação.
REVOLTA!
A reforma protestante encabeçada por Martinho Lutero a partir de 1517 criticava vários dogmas do catolicismo, inclusive o celibato de membros da igreja.
PAPA PIO 9º (1846 A 1878)
Até então o aborto não era considerado um pecado passível de excomungação pela igreja, e era uma prática normalizada. Em 1869, ele determinou que todos os abortos eram homicídio, em uma medida alinhada às políticas de expansão populacional europeias.
PAPA PIO 11º (1922 A 1939) E PIO 12º (1939 A 1958)
Mais uma vez, a igreja se manifestava contra a autonomia feminina. Pio 11º condenou formalmente os usos de métodos contraceptivos de forma geral –eles vão contra a ideia de que sexo deve ter fins reprodutivos. Pio 12º, por sua vez, aceitou a ideia do "planejamento natural" como contracepção, tendo em vista o controle de natalidade, mas fortaleceu o discurso contra a esterilização e o aborto, mesmo com recomendação médica.
PAPA JOÃO 23º (1958 A 1963)
Não fez nenhuma alteração na doutrina, mas iniciou uma abertura da Igreja com o objetivo de se integrar ao mundo moderno. A partir daí, foi-se abrindo caminho para uma outra visão da sexualidade.
PAPA JOÃO PAULO 2º (1978 A 2005)
Com a sua teologia do corpo, o sexo finalmente foi visto como parte do plano original de deus. Se na doutrina gregoriana o sexo no casamento era algo tolerado, mas inferior, com a teologia do corpo ele passou a ser considerado bom, santo, uma expressão do amor conjugal. Ainda assim, a homossexualidade e qualquer forma de sexualidade vivida de forma meramente recreativa, seguem condenadas.
PAPA FRANCISCO (2013 A 2025)
Embora não tenha realizado mudanças na doutrina, passou a ter um tom acolhedor com pessoas LGBTQIA+, autorizando que casais do mesmo sexo sejam abençoados, ainda que não recebam o sacramento do casamento. Sobre o aborto, ele disse que a prática não é permitida, mas que as mulheres que fazem um devem ser acolhidas. Sua opinião sobre contraceptivos foi ambígua: ele criticou a "indústria de contracepção", mas também disse que o uso desses métodos, em certos casos, não é um mal absoluto.
A situação atual da Igreja Católica, portanto, é a seguinte: sexo até pode, e pode ser por prazer, desde que seja dentro do casamento, entre homem e mulher, e não envolva anticoncepcionais e camisinha. Abortar, nem pensar.
Na dúvida, continua valendo a excelente esquete musical do grupo de humor britânico Monty Python que diz que "toda esperma é sagrado, todo esperma é bom, se esperma for desperdiçado, Deus fica muito irado" (assista abaixo).
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