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Thiago Stivaletti
Descrição de chapéu Televisão

Documentário da Netflix sobre Anitta põe ex-namorado de infância para filmá-la

'Larissa: O Outro Lado de Anitta' se esforça em mostrar as fraquezas e fragilidades da artista

Anitta em cena de 'Larissa: O Outro Lado de Anitta' - Divulgação/Netflix
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Em 1991, estreava "Na Cama com Madonna", filme que mudou a maneira de se filmar a vida pessoal das celebridades e foi na época o documentário de maior bilheteria da história. É nessa fonte que bebe "Larissa: O Outro Lado de Anitta", que a Netflix estreia na quinta (6).

É preciso admitir: Anitta encontrou um belo dispositivo para o seu filme pessoal. Convidou Pedro Cantelmo, seu primeiro namorado de infância, aos 12 anos, para codirigir o filme. O reencontro reacende a conexão afetiva e sexual de um pelo outro, borrando as fronteiras do pessoal e do profissional. Nada mais Anitta do que isso.

Cantelmo filma Anitta muitas noites em seu quarto de hotel, em cidades diferentes. Como Madonna em seu filme, ela aparece em momentos supostamente íntimos na cama, flertando com o diretor, mas com o cabelo e a make impecáveis de um comercial de perfume.

Porém, nem tudo é artifício: para os fãs, será um prazer vê-la flertando com o ex, fazendo carinhas infantis como se voltasse a ter 12 anos, oscilando entre a criança e a mulher sedutora.

Talvez o roteiro de Maria Ribeiro insista tempo demais numa suposta dualidade entre Larissa e Anitta, como se fossem duas personalidades distintas que quase nunca se encontram no mesmo corpo. Mas há também muita informação interessante para entender a estrela.

Quando criança, ela se achava feia, mas não sem carisma, consolidando a autoestima forte que é uma de suas marcas registradas. O filme também dá inúmeras provas de quanto Larissa é ligada à família, mandando áudios constantes ao pai, à mãe, ao irmão e às tias de qualquer parte do mundo.

Claro, o documentário não deixa de sublinhar as marcas que fazem dela a maior estrela do Brasil hoje: a primeira artista brasileira a alcançar o Top 1 Global do Spotify e a primeira a se apresentar no palco principal do Coachella, entre outras.

Infelizmente, dois dos traços mais marcantes da sua personalidade merecem pouco espaço: sua vida sexual livre e independente ("Fico com quem me faz bem. Pode ser o garçom, o flanelinha, o porteiro do prédio. Então... não me interessa", ela diz num dado momento) e sua militância feminista ligada a esse comportamento ("se fosse um homem rico e famosão que pegou uma garota muito linda da roça, todo mundo ia achar legal").

A NOVA CARMEN

A maior prova de inteligência e autoconsciência do seu lugar na cultura brasileira vem de uma referência que volta e meia aparece: Carmen Miranda. Em uma das cenas, ela diz a um colega, sem falsa modéstia, que ela é a brasileira de maior sucesso no exterior desde a Pequena Notável, que lotava teatros imensos na Broadway e morreu em 1955.

Uma foto de Carmen estampa a tela inicial do seu celular. Em uma turnê, ela carrega a incontornável biografia de Ruy Castro sobre a diva.

E é a Carmen que ela se compara quando sente que caiu na mesma armadilha do sucesso, chegando a uma exaustão inédita em sua vida, depois de tentar emplacar um hit atrás do outro. Quando Carmen morreu, de ataque cardíaco, tinha apenas 46 anos. Sagaz, Anitta percebe o paralelo e decide corrigir a rota de um trem que já estava a mil por hora.

A SÁBIA DA MONTANHA

Em 2022, a cantora recebeu o diagnóstico de Epstein-Barr, mais conhecida como a "doença do beijo", mononucleose infecciosa que causa tosse, febre e dor nas articulações, entre outros sintomas. A doença não é citada no documentário da Netflix, e sim sua viagem ao Everest como esforço para se afastar das pressões do dia-a-dia.

Mesmo com o guia dizendo que ali todos são iguais, Anitta não é qualquer uma: logo começa a tecer metáforas sobre como a escalada de uma montanha é igual à do sucesso. É já nessa reta final que o documentário perde força, recorrendo à velha narrativa da celebridade que se espiritualiza e descobre que é apenas um ser humano comum, e que "a gente pode ser feliz sem hits".

No fim, o retrato de Larissa só reforça a Anitta que gostamos de ver nos clipes e nos palcos. Não tinha como ser diferente. É sobre isso, e tá tudo ótimo para quem sabe dar valor à maior estrela brasileira do momento.

"Larissa - O Outro Lado de Anitta"
Estreia nesta quinta (6) na Netflix

Thiago Stivaletti

Thiago Stivaletti é jornalista e crítico de cinema, TV e streaming. Foi repórter na Folha de S.Paulo e colunista do UOL. Como roteirista, escreveu para o Vídeo Show (Globo) e o TVZ (Multishow)

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